Finasterida,
remédio mais usado para calvície, pode provocar impotência e não ser segura.
O efeito colateral mais conhecido - e
temido - de um dos principais medicamentos disponíveis para combater a calvície
é a disfunção sexual. Homens que tomam a finasterida podem apresentar
dificuldade em ter e manter ereções e perda de libido.
Ainda assim, o remédio continua sendo
utilizado e faltam pesquisas contundentes sobre os riscos que ele apresenta
para a vida sexual.
Qual a probabilidade de alguém que
toma finasterida apresentar esses problemas? Alguns homens estão mais propensos
que outros a tê-los?
Os efeitos continuam mesmo após a
interrupção do tratamento? Essas e outras questões seguem sem resposta,
dificultando a orientação de médicos e pacientes sobre o assunto, de acordo com
uma pesquisa publicada nesta quarta-feira, no periódico Jama Dermatology.
A equipe de pesquisadores americanos e
italianos que conduziu o estudo foi a primeira a ir a fundo nessas questões.
Os cientistas analisaram 34 testes
clínicos feitos com a finasterida e concluíram que as informações sobre a
toxicidade e os efeitos colaterais do medicamento disponíveis são extremamente
limitadas.
Nenhum dos testes clínicos já
realizados foi considerado adequado pela equipe.
"Nos últimos anos tem havido
relatos de homens que desenvolvem problemas sexuais quando tomam finasterida
para calvície e muitos especialistas dizem que isso não pode ser levado a sério
porque testes clínicos foram feitos e eles mostraram que o medicamento é
seguro", disse ao site de VEJA o dermatologista Steven Belknap,
pesquisador da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, e principal autor
do estudo.
Diante dessa justificativa, ele
decidiu analisar todos os testes clínicos a que teve acesso e encontrou neles
uma falta de informação preocupante. "Há pouca informação realmente válida
para dizer se essa droga é segura", afirma.
Questões sem resposta
De acordo com o cientista, informações
básicas sobre os efeitos colaterais do remédio não puderam ser obtidas nos
estudos analisados.
A ciência ainda não explica, por
exemplo, por que alguns homens podem apresentar a disfunção e outros não, o
motivo de, em alguns casos, os efeitos persistirem mesmo quando o uso do
medicamento é interrompido, o quão comum é o aparecimento desses problemas ou
qual sua severidade.
"Os cientistas que fizeram esses
estudos sabiam ou deveriam saber que a disfunção sexual pode acometer alguns
homens que tomam a finasterida. As pesquisas deveriam ter sido desenhadas para
detectar esse efeito", diz Belknap.
Ele acredita que as chances de novos e
melhores testes serem feitos é pequenas, uma vez que a droga já está no mercado
e há pouco interesse comercial em testá-la.
"Perdemos a oportunidade de
aprender sobre o efeito tóxico dessa droga porque os testes não foram feitos ou
reportados adequadamente", completa.
Cuidados
O dermatologista brasileiro Arthur
Tykocinski, membro da Sociedade Internacional de Transplante Capilar (ISHRS, na
sigla em inglês), afirma que convive em seu cotidiano profissional com as
conclusões da análise.
"Muitos pacientes tomam a
finasterida por anos a fio e grande parte dos estudos acompanha os homens por
um ano ou menos", diz.
O médico conta que recomenda o remédio
apenas para pacientes jovens, na faixa dos 20 anos, que têm uma produção maior
de testosterona e seus derivados e correm menos riscos de sofrer os efeitos nas
funções sexuais.
"É o único medicamento com efeito
significativo sobre a calvície, mas ainda estamos um pouco às cegas e a
tendência é que ele seja cada vez menos prescrito", conta. A partir dos 40
anos, ele diz não indicar o tratamento.
Belknap considera que, para um
medicamento de finalidade estética (ainda que a calvície possa ser uma questão
importante para o comportamento psicológico masculino), o risco envolvido na
prescrição é muito alto.
"A finasterida definitivamente
causa disfunção sexual em alguns homens. Por que ela ainda é usada é um
mistério", diz o pesquisador.
Criação
A finasterida atua no couro cabeludo
bloqueando a ação da enzima 5-alfa-redutase, responsável por transformar a
testosterona em dihidrotestosterona (DHT) - hormônio relacionado ao afinamento
dos fios.
No entanto, originalmente, foi criada
para combater a hiperplasia da próstata - o aumento desta glândula que causa
dificuldades para urinar.
Na década de 1970, endocrinologistas
americanos visitaram uma tribo na República Dominicana que tinha 2% das
crianças que nasciam o sexo indefinido e, durante a puberdade, sofriam mudanças
físicas e se transformavam em meninos.
Eles descobriram que essa condição se
devia a uma mutação genética que resultava em baixos níveis da enzima
5-alfa-redutase e, partindo desta descoberta, a farmacêutica Merck criou a
finasterida.
Posteriormente, o medicamento deixou
de combater problemas na próstata e passou a ser utilizado contra a queda de
cabelo em homens.
Atualmente, mesmo em seu propósito
inicial, a hiperplasia da próstata, a finasterida pode ser substituída. Apenas
20% dos homens com essa condição usam o medicamento.
Novas drogas e até mesmo um stent,
como os usados em cirurgias cardiológicas, podem ser usados para controlar essa
condição.
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