Brasil está perto de ter
medicamento totalmente desenvolvido no país
Pesquisadores
apostaram na saliva do carrapato-estrela, de onde conseguiram retirar uma
molécula para tratar alguns tipos de câncer.
Desde
segunda-feira (18), você tem visto no Jornal Nacional uma série de reportagens
especiais sobre os testes com remédios em seres humanos. Nesta quarta-feira
(20), Sandra Passarinho mostra que estamos mais perto de ter um medicamento
totalmente desenvolvido no Brasil, mas isso ainda é uma exceção.
O carrapato é
uma criatura incômoda, mas esse é
especial. Pesquisadores do Instituto Butantan, em São Paulo, apostaram na
saliva do carrapato-estrela, de onde conseguiram retirar uma molécula para
tratar alguns tipos de câncer, como o melanoma, um câncer de pele e tumores do
pâncreas e dos rins.
A Organização
Mundial da Saúde calcula que o Brasil terá, em 2015, mais de 24 mil novos casos
desses três tipos de câncer. A descoberta, meio inusitada, foi por acaso,
quando o grupo estava pesquisando um novo remédio para evitar a coagulação do
sangue.
No laboratório,
a molécula do carrapato-estrela foi testada em células humanas normais e
doentes. No primeiro grupo, não acontecia nada, mas no segundo, a molécula
matava células que tinham tumores.
"E aí o
projeto teve uma mudança de rota. Nós resolvemos, além da atividade
anticoagulante, começar a entender por que essa molécula matava células
tumorais.", diz a doutora Ana Marisa Chudzinski, do Laboratório de
Bioquímica do Instituto Butantan.
Os cientistas
começaram a testar a substância em animais.
A molécula usada
nos testes não é mais extraída do carrapato, mas produzida em larga escala em
laboratório. O próximo passo da pesquisa é o teste clínico, para confirmar se o
remédio vai mesmo servir para os seres humanos. Lá se vão 12 anos de estudos.
"Nós
conseguimos fazer desde o início, desde a pesquisa-básica até a produção final
do medicamento viabilizando esse produto para sociedade e isso é um processo
inovador, que não é só brasileiro. Isso é um conceito de inovação
internacional”, explica Alexander Precioso, da Divisão de Ensaios Técnicos do
Instituto Butantan.
Grande parte dos
remédios vem da natureza. E o Brasil tem uma das maiores biodiversidades do
mundo. Só que os cientistas acham que a burocracia não ajuda a conhecer melhor
essa riqueza, mas, agora, o estudo de plantas e animais é a base de uma nova
lei que pode facilitar a vida dos pesquisadores.
A lei sobre a
biodiversidade brasileira foi aprovada, nesta quarta-feira (20), pela
presidente Dilma Rousseff. A legislação simplifica o acesso ao material
retirado da natureza. Uma das mudanças é que o pesquisador vai poder se
cadastrar pela internet, sem ter que apresentar tantos documentos para começar
o trabalho.
Mas alguns
grupos acreditam que as novas regras são mais favoráveis aos cientistas do que
às comunidades indígenas, que também têm direito a essa riqueza.
O horto da
faculdade de medicina da Universidade Federal do Ceará é o campo de trabalho do
professor Manoel Odorico. A equipe dele descobriu uma planta que tem uma
atividade anticâncer. “Dessa folha, é de onde se tira a substância que a gente
determinou que tivesse efeito anticâncer", diz o professor.
O estudo foi
publicado em uma revista científica internacional. No Brasil, por causa da burocracia,
não foi adiante. Mas nos Estados Unidos, foi diferente. A descoberta chamou a
atenção de pesquisadores da Universidade de Harvard. A substância acabou
patenteada pelos americanos. E mais: já é testada em humanos lá fora.
“Perde o país,
perdemos nós pesquisadores, perde a universidade e perdem, principalmente, os
pacientes que deixam de ter um medicamento genuinamente nacional a um custo bem
abaixo do que é cobrado pelas indústrias farmacêuticas internacionais”, lamenta
Manoel Odorico de Moraes, da Universidade Federal do Ceará.
No Brasil, os
pesquisadores esperam mais estímulos para produzir trabalhos, como o teste do
carrapato-estrela, que é brasileiro do início ao fim.
Fonte: Nortão Jornal

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