Science: Bactérias projetadas detectam câncer e
diabetes na urina.
A
revista Science publicou um artigo de Robert F. Service sobre estudos para a
detecção de duas das doenças mais temidas pelo ser humano. "A
maioria de nós pensa nas bactérias como o inimigo, mas cada um de nossos corpos
abriga trilhões de micróbios, a maioria deles benéficos ou benignos. Agora já é
possível adicionar dois novos amigos à lista. Esta semana, dois grupos de
biólogos sintéticos que buscam reutilizar micróbios vivos em benefício do ser
humano anunciaram a utilização de bactérias geneticamente modificadas para
detectar câncer em ratos e diabetes em humanos".
Médicos tentam
explorar os micróbios há mais de um século. Começando em 1891, um cirurgião
americano de ossos chamado William Coley injetou colônias de bactérias em mais
de 1000 pacientes esperando que elas pudessem reduzir tumores inoperáveis. O
tratamento às vezes funcionava, em parte porque os micróbios buscavam
preferencialmente tecidos com tumor, que é rico em nutrientes embora tenha
poucas células imunes para derrubar qualquer patogênico. Mas os resultados
foram irregulares, e com o aumento da radiação e quimioterapia, a abordagem
deixou de ser utilizada. Mais recentemente, biólogos sintéticos começaram a
modificar bactérias para lutar contra o câncer e outras doenças—
desenvolvendo-as para esconder toxinas dentro de tumores, por exemplo. Duas
dessas terapias até chegaram aos testes clínicos, embora nenhuma já tenha sido
aprovada.
Bem menos
esforço tem sido dirigido ao uso de bactérias como teste para doenças. Sangeeta
Bhatia, um engenheiro biomédico no Instituto de Tecnologia de Massachusetts
(MIT) em Cambridge, e seus colegas trabalharam anteriormente na detecção de
câncer usando nanopartículas de metal. Na presença de um tumor, as partículas
liberariam fragmentos de proteínas chamados péptidos que poderiam ser
detectados na urina. Infelizmente, diz Bhatia, o sinal foi muito fraco para
servir como um claro indicador de doença. A equipe de Bhatia percebeu depois
que as bactérias ofereceram uma opção potencialmente superior. Os pesquisadores
sabiam que os micróbios com um gosto pelo tumor costuma penetrar as massas na
medida em que crescem e se replicam. Então o grupo de Bhatia se juntou a uma
equipe liderada por Jeff Hasty, um bioengenheiro na Universidade da Califórnia,
em San Diego, para reprogramar bactérias que poderiam ser dadas a ratos e, na
presença do câncer, produziriam um sinal luminescente com um simples teste de
urina.
Eles começaram
com uma inofensiva variedade de bactérias chamadas Escherichia coli Nissle
1917, que costuma ser adicionada a iogurtes e outros alimentos como um
probiótico para promover uma saúde digestiva. Em primeiro, eles alimentaram a
bactéria para os ratos e confirmaram que os micróbios atravessaram o intestino
e colonizaram tumores no fígado. Eles desenvolveram as bactérias para produzir
uma enzima natural chamada LacZ quando encontraram um tumor. Em seguida, os
pesquisadores injetaram nos ratos compostos que eram precursores para emissores
de luz.
Essas eram
moléculas de duas partes feitas de açúcar ligada à luciferina, uma molécula
luminescente. Quando unidos, a dupla não emite luz, mas o LacZ age como um par
de tesouras que corta as duas em duas partes. Então, nos ratos que tiveram
câncer de fígado habitado pelo E. coli, o LacZ produzido pelos micróbios
lançaram o componente luminescente, que foi então excretado na urina dos
animais, fazendo essas amostras mudarem de amarelo para vermelho. E mais,
Bhatia e seus colegas relataram na edição da Science Translational Medicine
desta semana, enquanto técnicas convencionais de imagem lutam para detectar
tumores de fígado menores do que 1 centímetro quadrado , essa abordagem foi
capaz de encontrar tumores pequenos, de 1 milímetro quadrado.
Em um estudo separado
também divulgado na edição atual da Science Translational Medicine,
pesquisadores liderados pelo bioquímico estrutural Jerome Bonnet da
Universidade de Montpellier na França seguiram uma estratégia ligada em
detectar um sinal-chave de diabetes, como glicose elevada na urina de pacientes
humanos. Os pesquisadores acrescentaram um circuito genético à bactéria para
que assim produzissem uma grande quantidade de proteína fluorescente vermelha
uma vez que a concentração de glicose em seu ambiente alcançasse certo nível.
Nesse caso, porém, a sobrecarga da equipe de E. coli não era injetada primeiro
em pessoas, mas simplesmente adicionada a amostras de urina, onde produziram
uma mudança de cor. Por enquanto, essa abordagem não é melhor do que um monitor
padrão de glicose. Mas pelo fato do esquema de detecção pode ser redirecionado
para detectar outros alvos, poderia servir como uma plataforma para uma ampla
gama de diagnósticos futuros.
“Os dois são
bons avanços para o campo,” diz Jim Collins, um biólogo sintético no MIT. Mas
ele alerta que as duas abordagens continuam a anos de distância de serem
aprovadas para o uso clinico. Tim Lu, que também é um biólogo sintético no MIT,
concorda. “Quando tomado junto, esse par de papéis demonstra que a biologia sintética
será útil não somente para a terapia mas para o diagnóstico também.” Isso pode
dar uma reputação melhor para as bactérias no final das contas.
Fonte : Jornal do Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário