De
zika a rubéola: as doenças que podem causar malformações em fetos
Não é só o vírus zika que pode
trazer complicações para o bebê se a mãe for infectada durante a gravidez.
Outras doenças podem provocar problemas na formação do feto, sobretudo se
adquiridas pela mulher nos três primeiros meses de gestação.
Rubéola, toxoplasmose, sífilis e
infecções causadas pelo citomegalovírus são as principais causas conhecidas de
malformações fetais – entre elas a microcefalia, quando o bebê nasce com o
diâmetro da cabeça igual ou inferior a 32 centímetros.
A rigor, no entanto, muitas infecções
consideradas banais, como a gripe, podem, ainda que raramente, acarretar
problemas para o embrião. Sem falar em outras condições, como o uso de drogas e
o consumo excessivo de álcool, ou mesmo a exposição à radiação. E há também as
causas genéticas: alterações no cromossomo que podem provocar danos cerebrais.
"A microcefalia pode ocorrer
sempre que houver uma lesão cerebral significativa na fase de crescimento
acelerado do cérebro, não é um problema específico de uma doença ou
condição", explica o chefe da neuropediatria da Unifesp, Luiz Celso
Vilanova. "Essa fase de crescimento é crucial nos primeiros três meses de
gestação, mas se estende ainda por meses após o parto."
Até a constatação da relação
entre o zika e o nascimento de bebês com microcefalia, o grande temor das
grávidas sempre foi à rubéola. A infecção durante a gravidez pode causar
diferentes tipos de má-formação fetal. Problemas de audição, de visão, doenças
ósseas, alterações cardíacas e microcefalia são algumas das complicações
decorrentes da infecção na gestante.
Mas a vacina existe e já está,
inclusive, disponível no calendário regular de vacinação, o que vem fazendo
diminuir muito a ocorrência da doença. O problema tende a se tornar cada vez
mais raro, como aconteceu com o sarampo.
"Houve uma época em que
havia enfermarias só para casos de sarampo", lembra o pediatra e
infectologista Paulo Cesar Guimarães, diretor da Faculdade de Medicina de
Petrópolis. "Hoje, isso não existe mais."
O sarampo também era uma das
doenças que causava problemas aos fetos, mas, agora, com a vacinação em massa
da população, deixou de ser uma ameaça. Eventualmente, com a interrupção da
vacinação por algum motivo, o risco pode retornar – daí a importância de se
seguir à risca o calendário de vacinas, alertam os especialistas.
Uma infecção para a qual não há
vacina e com a qual as grávidas devem tomar cuidados é a toxoplasmose. A doença
é causada por um protozoário que pode estar presente nas fezes de felinos e
também em carnes malpassadas. Em geral se trata de uma febre branda.
"Normalmente é uma doença
simples, que passa despercebida", explica o obstetra e ginecologista Alex
Sandro Rolland de Souza, especialista em medicina fetal do Instituto de
Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), um dos centros de
referência para microcefalia de Recife.
"Na gravidez, no entanto,
pode causar malformações cerebrais no feto, entre elas a microcefalia."
Existe tratamento para a
toxoplasmose e, se a doença for diagnosticada rapidamente, o risco de acarretar
problemas para o feto diminui muito.
Outras infecções que podem causar
problemas são aquelas causadas por citomegalovírus. Embora a infecção em si não
seja grave, em geral apenas uma febre branda, as consequências para o feto
podem ser sérias, sobretudo porque não há tratamento para a doença. No feto em
formação essas infecções podem causar alterações no sangue, problemas de
audição, microcefalia.
A sífilis é um outro problema
para o qual as grávidas devem estar alertas. A doença, causada por uma
bactéria, é sexualmente transmissível. Antigamente, quando não havia
penicilina, representava um grande problema de saúde. Hoje, continua sendo
considerada uma doença grave, porém tratável. No entanto, se acometer grávidas,
pode trazer complicações de formação fetal, sobretudo anomalias ósseas.
De acordo com os médicos, cada
uma dessas doenças ou condições que podem acometer as grávidas promovem
alterações de formação relativamente similares.
Mas há particularidades
dependendo de cada caso. Por exemplo, a rubéola é a única a provocar
complicações cardíacas, enquanto que no caso da toxoplasmose, as complicações
costumam ser mais oculares. A má-formação do crânio pode ocorrer em decorrência
de todas elas, também com algumas peculiaridades.
"As infecções pelo
citomegalovírus costumam provocar os danos mais extensos, mas isso pode variar
muito", afirma Vilanova. "E sempre há casos de apresentações não
usuais."
Para o chefe da neuropediatria da
Unifesp, ainda é cedo para falar de características específicas dos casos de
microcefalia relacionados ao vírus zika.
"Temos ainda poucos casos
comprovados cientificamente da relação entre o zika e a microcefalia para
tirarmos um padrão conclusivo", diz ele. "Por enquanto, há muitos
casos inferidos (em que a mãe relata ter tido um problema cujos sintomas são
similares aos do zika, mas sem comprovação por teste). Estamos na fase inicial
do problema e querer tirar conclusões definitivas é muito precoce."
Um fator que conta muito para a
extensão da lesão, no entanto, é o momento em que a gestante contrai a doença.
Os especialistas concordam que o período mais crítico da gestação é o primeiro
trimestre. Os primeiros três meses da gravidez equivalem ao período em que os
principais órgãos e sistemas do embrião estão se formando e qualquer agente
externo pode ter um impacto grave neste processo.
"De maneira geral, podemos
dizer que quanto mais precoce (na gravidez) for à ocorrência da doença, mais
graves são as repercussões que podem ser causadas no feto", explicou
Rolland de Souza.
Em estágios mais avançados da
gravidez – e, sobretudo, no final –, a repercussão tende a ser muito branda ou
mesmo nula.
A prevenção desses problemas,
obviamente, varia. A mulher deve sempre estar vacinada para as doenças cujos
imunizantes estão disponíveis. Deve se prevenir de picadas de mosquitos, usando
repelente ou andando mais coberta.
Deve evitar a ingestão de carne
malpassada e o contato com fezes de gato, no caso da toxoplasmose. E deve
evitar locais fechados com muita aglomeração de pessoas – ambiente propício
para o citomegalovírus e outros vírus mais comuns. "Mas, claro,
sempre existe um risco", diz Luiz Celso Vilanova.
Rolland de Souza lembra ainda que
embora a dengue e a chikungunya sejam também febres causadas por um arbovírus,
como a zika, nunca se estabeleceu nenhuma relação entre a infecção por essas
doenças e o nascimento de bebês com problemas de formação.
"E a dengue, como é uma
doença mais grave, que pode levar à morte, é muito mais estudada, há muito mais
tempo, e em várias partes do mundo", acrescenta Paulo Cesar Guimarães.
"E nunca nada neste sentido foi constatado."
Rolland de Souza lembra, no
entanto, que entre as gestantes que contraíram dengue ou chikungunya se nota
uma taxa maior de partos prematuros. E, portanto, as gestantes devem estar
atentas ao problema.
Fonte: BBC Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário