CLÍNICA FARMACÊUTICA EM
CASOS DE FEBRE AMARELA
POR EGLE
LEONARDI. POSTADO EM VAREJO
FARMACÊUTICO.
Até o
fechamento desta matéria, em 31 de janeiro de 2017, o Brasil já havia
confirmado 42 mortes por febre amarela, com 555 casos notificados pelo
Ministério da Saúde. Os locais mais atingidos foram Minas Gerais, São Paulo,
Espírito Santo, Bahia e Distrito Federal, mas a doença pode chegar a mais
Estados brasileiros.
Em nota do dia 27 de janeiro, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que a circulação de pessoas entre as
áreas de riscos e o número de macacos infectados pela doença (que também migram
para outras regiões), deverá causar novos casos no País. Para a OMS, este é o
maior surto da doença desde 1980, quando teve início a série estatística
histórica. Assim, o órgão afirma que será necessária a vacinação em massa da
população.
“A febre amarela silvestre é
transmitida por mosquitos chamados de haemagogus e sabethes. A febre amarela
urbana é transmitida pelo aedes aegypti, que é o mesmo que transmite a dengue,
a zika e a chicungunya. Os últimos casos de febre amarela urbana no Brasil
ocorreram em 1942, no Acre. Apesar das duas formas da doença, não há diferença
de sinais e sintomas. Não há relatos de transmissão de febre amarela direta
entre pessoas”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia,
Sergio Cimerman.
A doença exige atendimento
hospitalar e deve ser tratada logo nos primeiros sintomas para evitar maiores
complicações. Dessa forma, o papel do farmacêutico clínico, nas drogarias e
farmácias, no reconhecimento do problema e orientação dos pacientes para
posterior encaminhamento médico é de vital importância.
O farmacêutico clínico e
professor do ICTQ, Alexandre Massao Sugawara, explica que a febre amarela é de
notificação compulsória e imediata, portanto todo caso suspeito identificado
deve ser prontamente comunicado aos centros de vigilância epidemiológica das
secretarias de saúde dos estados e municípios. “Caso o farmacêutico fique
sabendo de algum macaco morto encontrado pela população, ele deve sugerir sua
captura e encaminhamento (com urgência) para realização de exames. O serviço de
captura é realizado gratuitamente por profissionais dos órgãos competentes
definidos pelas secretarias de saúde locais”, alerta.
Como profissional farmacêutico em
um estabelecimento de saúde – a farmácia, é fundamental que preste um
importante serviço a sua comunidade, reconhecendo possíveis sintomas e sabendo
exatamente como agir no sentido de encaminhar possíveis pacientes do balcão ou
consultório farmacêutico, direto ao serviço médico hospitalar de emergência.
Para isso, siga as recomendações (baixo) de Sugawara.
1 – Quais são os sintomas da
doença
Os sintomas da febre amarela têm
início súbito, com febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular,
náuseas e vômitos, que duram cerca de três dias. Após este período, o paciente
experimenta um breve momento assintomático, que não deve ser confundido com uma
melhora clínica. Ele deve ser mantido em observação. Em alguns casos, o quadro
evolui para a sua forma mais grave, que inclui icterícia e hemorragia, seguidas
de falência dos órgãos e, eventualmente, a morte.
2 - Como reconhecer, na farmácia,
esses sintomas.
Todo problema de saúde deve ser
analisado pelo farmacêutico em consultório clínico (ou mesmo no balcão da
farmácia, se não houver local privativo) para determinar, em anamnese, a queixa
de saúde, seu histórico e o histórico médico pregresso, que inclui o
farmacoterapêutico, o histórico social e o familiar.
Após a anamnese, o farmacêutico
deve proceder a uma revisão dos sistemas buscando sinais e sintomas que possam
elucidar o caso. Com os dados coletados, passa-se à decisão das medidas a serem
tomadas. No caso da febre amarela, podem-se prescrever alguns cuidados
paliativos no controle de sintomas, mas essencialmente deve-se encaminhar o
paciente para um atendimento hospitalar, que possui o suporte e a equipe de saúde
necessária ao atendimento desse tipo de demanda.
3 - O que investigar junto ao
paciente
O farmacêutico clínico deve estar
atento às queixas de saúde de seus pacientes, especialmente febre alta de
início súbito, acompanhada de dores musculares, náuseas e vômitos. A avaliação
da mucosa dos olhos com tonalidade amarela é suspeita de icterícia. Dores
abdominais avaliadas por palpação da região é suspeita de hemorragia gástrica,
que está associada aos casos mais graves de febre amarela.
4 - Em suspeita da doença, o que
o farmacêutico deve fazer.
Por se tratar de uma doença com
rápido decurso, a recomendação é que o farmacêutico encaminhe o paciente
imediatamente para o pronto atendimento hospitalar, para que sejam instaladas
as medidas efetivas no combate à doença, que pode exigir a internação em
unidade de terapia intensiva. O controle paliativo da febre e a reidratação
podem ser realizados, pelo menos até que o paciente seja atendido em nível
hospitalar que deve ser o mais imediato possível.
5 - Atenções às interações
medicamentosas
Em pacientes com suspeita de
febre amarela, não é recomendado o controle paliativo da febre com salicilatos,
pois podem piorar o quadro hemorrágico que potencialmente ocorre em casos de
febre amarela. Pacientes usuários de anticoagulantes e outros inibidores da
agregação plaquetária podem potencializar o quadro hemorrágico comum nos casos
mais graves da doença.
6 - Benefícios do atendimento
farmacêutico
O serviço clínico farmacêutico,
que é mais próximo da comunidade, permite a rápida detecção de estados
alterados de saúde. Assim, o paciente se beneficia enormemente com o devido
acompanhamento e encaminhamento para o efetivo tratamento da situação de
alteração do estado de saúde observada.
7 – Como orientar sobre a
prevenção da febre amarela
A única forma de evitar a febre
amarela é por meio da vacinação. A vacina está disponível durante todo o ano
nas unidades de cuidados de saúde de forma gratuita, e deve ser administrada em
pacientes moradores das áreas de risco e em viajantes para essas áreas com,
pelo menos, dez dias antes de seu deslocamento.
A vacina pode ser administrada em
pessoas após seis meses de idade e é válida por dez anos. As exceções são para
os pacientes imunossuprimidos, gestantes, mulheres em lactação e pessoas com
doença no timo. Em áreas de riscos, o farmacêutico deve levantar o histórico de
saúde de seus pacientes, avaliando o cumprimento dos esquemas de vacinação e,
em casos de necessidade, deve encaminha-los às unidades básicas de saúde da
região para atualização de suas carteiras de vacinação.
8 - Repelentes ou outros métodos
preventivos
Quando não há a possibilidade de
vacinação de pessoas que visitam ou moram nas áreas endêmicas, devem-se
reforçar medidas de proteção, como o uso de repelentes e roupas impregnadas com
permetrina, mesmo porque o mesmo mosquito que causa a febre amarela também é
responsável pela dengue, zika e chicungunya. Os repelentes podem ser utilizados
em crianças a partir de dois meses de idade, segundo recomendações
internacionais, mas é fundamental ler corretamente a bula dos produtos antes de
aplicá-los.
Outras recomendações gerais
incluem o uso de camisas de mangas compridas e calças e a instalação de telas
de proteção em portas, janelas, berços e carrinhos de bebês. Além disso,
é essencial colaborar com as ações de combate vetorial nos municípios situados
próximos das áreas de transmissão, visando reduzir os índices de infestação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário